domingo, 31 de outubro de 2010

Harmonia enlouquece


Estou vivendo

No mundo do hospital
Tomando remédios
De psiquiatria mental

Estou vivendo
No mundo do hospital
Tomando remédios
De psiquiatria mental

Haldol, Diazepam
Rohypnol, Prometazina
Meu médico não sabe
Como me tornar
Um cara normal

Me amarram, me aplicam
Me sufocam
Num quarto trancado

Socorro
Sou um cara normal
Asfixiado

Minha mãe, meu irmão
Minha tia, minha tia
Me encheram de drogas
De levomepromazina

Ai, ai, ai
Que sufoco da vida
Sufoco louco
Tô cansado
De tanta
Levomepromazina

terça-feira, 15 de dezembro de 2009


Invasores de Cérebro - Porra de vida



Você que mora em favelas, em habitações subumanas
Paga aluguel, agua e luz e não tem o que comer
Levanta 5 da manha, onibus lotado, trem apertado
Trabalho o mês inteiro, dá um duro danado
Você não ganha nada
Porra de vida, porra de vida, porra de vida
Você não vale merda nenhuma
Eu não sei o que se passa comigo
Eu so sei que perco o juízo
Quando sinto no meu peito a revolta explodindo
Entre muitos a pobreza é tão grande
Entre poucos a riqueza é gigante
È tão triste descobrir que você nasceu pra perder
Porra de vida, porra de vida, porra de vida
Você não vale merda nenhuma
Eu não sei o que se passa comigo
Eu so sei que perco o juízo
Quando sinto no meu peito a revolta explodindo
Entre muitos a pobreza é tão grande
Entre poucos a riqueza é gigante
È tão triste descobrir que você nasceu pra se fuder
Porra de vida, porra de vida, porra de vida
Você não vale merda nenhuma

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Paulo Leminsky

[matéria é mentira]
essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira

[tudo que eu diga seja poesia]
moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia

[vazio agudo]
vazio agudo
ando meio
cheio de tudo

[Arte do chá ]
ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo

[acordei bemol]
Acordei bemol
Tudo estava sustenido

Sol fazia
Só não fazia sentido
[acendo o cigarro no incenso]
dia sem senso
acendo o cigarro
no incenso


[Erra uma vez]

nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez


[.]
Esta vida de eremita
é, às vezes, bem vazia.
Ás vezes, tem visita.
Às vezes, apenas esfria.


[LÁPIDE 1 - epitáfio para o corpo]
Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silência, acredito,
são suas obras completas.


[LÁPIDE 2 - epitáfio para a alma]
aqui jaz um artista
mestre em desastres

viver
com a intensidade da arte
levou-o ao infarte

deus tenha pena
dos seus disfarces

[.]
coisas do vento
a rede balança
sem ninguém dentro
[.]
dia cinzento
assim me levanto
assim me sento
[.]
novas telhas
à primeira chuva
nova goteira
[.]
nadando num mar de gente
deixei lá átras
meu passo à frente
[.]
inverno
é tudo que eu sinto
viver
é sucinto
[.]
muito romântico
meu ponto pacífico
fica no atlântico
[.]
- que tudo se foda,
disse ela,
e se fodeu toda
[.]
de colchão em colchão
chego à conclusão
meu lar é no chão
[.]
essa a vida que eu quero,
querida

encostar na minha ,
a tua ferida
[.]
Fiz um trato com meu corpo.
Nunca fique doente.
quando você quiser morrer,
eu deixo.
[.]
vida e morte
amor e dúvida
dor e sorte

quem for louco
que volte.
[.]
acabo como começo
canções de fracasso
não fazem mais sucesso

terça-feira, 21 de julho de 2009

Cacaso (Antônio Carlos Ferreira de Brito)

Cacaso executado
(Clique com o direito, e zoom > tela inteira, no vídeo)


Descartes

Não há
no mundo nada
mais bem
distribuído do que a
razão: até quem não tem tem
um pouquinho

Happy end

O meu amor e eu
nascemos um para o outro

agora só falta quem nos apresente

Lar doce lar
(para Maurício Maestro)

Minha pátria é minha infância:
por isso vivo no exílio

Estilos trocados

Meu futuro amor passeia — literalmente — nos
píncaros daquela nuvem.

Mas na hora de levar o tombo adivinha quem cai.

Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém


A parte perguntou para a parte qual delas
é menos parte da parte que se descarte.
Pois pasmem: a parte respondeu para a parte
que a parte que é mais — ou menos — parte
é aquela que se reparte.

1970, e bolinhasººº

Sérgio Sampaio- Tem Que Acontecer

Não fui eu nem Deus
Não foi você nem foi ninguém
Tudo o que se ganha nessa vida
É pra perder
Tem que acontecer, tem que ser assim
Nada permanece inalterado até o fim
Se ninguém tem culpa
Não se tem condenação
Se o que ficou do grande amor
É solidão
Se um vai perder
Outro vai ganhar
É assim que eu vejo a vida
E ninguém vai mudar

Eu daria tudo
Pra não ver você cansada (zangada)
Pra não ver você calada (cansada)
Pra não ver você chateada
Cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus nem sou Senhor

Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arriada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou (sou só) um compositor popular

Som Nosso de Cada Dia - Sinal da Paranóia
Essa obsessão de chegar...
O terror de não vir a ser o que se pensa...
Esse eterno pensar nas coisas eternas
Que não duram mais que um dia
Que não duram mais que um dia

A tortura à procura da essência
O barulho aterroriza, tranca, lacra o peito

Sinal da paranóia, Sinal da paranóia, Sinal da paranóia

A Barca do sol - Lady Jane
Composição:Geraldinho e Nando Carneiro

Lady Jane
Respiro o cheiro dos esgotos no chão
Sob essas catedrais de Babel
Ah, Lady Jane
Eu sinto o gosto dos esgotos no chão
Sob essas catedrais
Sob essa escuridão
Os edifícios tem de cair
Ah, Lady Jane
Toda essa terra vai se consumir
Com os seus mistérios
Como uma fogueira
Vai queimar
Ah, Lady Jane
Eu tive um sonho estranho
De morte



segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ulisses Tavares

Coerência

Eu odeio o povo.
Acossado
espremido
espoliado
sugado
usado
sozinho.
Eu amo o povo.

Tadeu Gonçalves

Inocência

o menino
brincava
entre cadáveres.
não sabia o menino
que os cadáveres
foram meninos
que brincaram
de liberdade.

Allan Sieber Talk to Himself Show









Aristides Klafke

É triste perder a liberdade e não ficar louco

diariamente fica trancado no quarto
apreciando o pinto sempre ereto respirando
sonhando nú subestimando o passado renegando
atitudes masturbando a impotência psíquica
obscuro transparente indivíduo sempre
se protegendo em Reich tecendo melancólicos
pensamentos sexuando os objetos existentes na
mente permanecendo exilado no próprio corpo
abstraindo inutilidades sem perspectiva
sem ler os jornais decretando passivo o ritmo
da vida o tempo todo mastigando aspectos
mutilados da história sem energia sem
pressentimento arrumando os inúteis livros
amontoados na cama covardemente padecendo sob
os ejaculados lençóis sujos de paranóia

domingo, 21 de junho de 2009

Frases atribuídas ao jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues(1912-1980):


-
- Quando năo gostam de uma coisa minha, sinto uma gostosa sensaçăo de que eu năo tenha fracassado totalmente.

- A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.

- O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.

- O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.

- O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um, o da imaturidade.

- A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.

- Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.

- A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.

- Outrora os idiotas se recolhiam a sua própria insignificância, então deram conta de sua superioridade numérica e passaram a ocupar todos os postos importantes do país.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva)

É melhor escrever errado a coisa certa do que escrever certo a coisa errada...

O Peixe


Tendo por berço o lago cristalino,
Folga o peixe, a nadar todo inocente,
Medo ou receio do porvir não sente,
Pois vive incauto do fatal destino.

Se na ponta de um fio longo e fino
A isca avista, ferra-a insconsciente,
Ficando o pobre peixe de repente,
Preso ao anzol do pescador ladino.

O camponês, também, do nosso Estado,
Ante a campanha eleitoral, coitado!
Daquele peixe tem a mesma sorte.

Antes do pleito, festa, riso e gosto,
Depois do pleito, imposto e mais imposto.
Pobre matuto do sertão do Norte!

Saudade

Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.

GOG

Brasil com P
Brasil com P + Próxima Parte (perde pedaço)

Pesquisa publicada prova
Preferencialmente preto,
Pobre, prostituta pra polícia prender
Pare pense, por quê?
Prossigo
Pelas periferias praticam perversidades
Pm's
Pelos palanques políticos prometem prometem
Pura palhaçada
Proveito próprio
Praias programas piscinas palmas
Pra periferia
Pânico pólvora pa pa pa
Primeira página
Preço pago
Pescoço peitos pulmões perfurados
Parece pouco
Pedro Paulo
Profissão pedreiro
Passatempo predileto
Pandeiro
Preso portando pó passou pelos piores pesadelos
Presídio porões problemas pessoais
Psicológicos perdeu parceiros passado presente
Pais parentes principais pertences
Pc
Político privilegiado preso parecia piada
Pagou propina pro plantão policial
Passou pelo porta principal
Posso parecer psicopata
Pivô pra perseguição
Prevejo populares portando pistolas
Pronunciando palavrões
Promotores públicos pedindo prisões
Pecado , pena , prisão perpétua
Palavras pronunciadas
Pelo poeta irmão..

Próxima Parte

Papai pede pizza ,Papai!
Patricinha ,pega pipóca!
Poxa papai ,pede pizza
Pronto, pizzaria Pazianoto?
Prepara pizza, parte palmito ,parte presunto.
Positivo,preparo!
Papai , papai , papai

Pelo presente pronunciamento,
Pedimos punição para peixes pequenos,
Poderosos , pesos pesados.
Pedimos principalmente paixão pela pátria ,
Prostituida pelos portugueses
Previnimos, posição parcial poderá provocar,
Protestos ,paralisações, piquetes , pressão popular,
Preocupados?
Promovemos passeatas pácificas, palestras ,
Panfletamos, passamos perseguições,
Perigos por praça, palcos…
Protestavamos porque privatizaram portos,
Pedagios
Proibido
Policiais petulantes pressionavam
Pancadas , pauladas ,pontapés , pangarés pisoteando,
Postulavam prêmios… pura pilantragem,
Padres, pastores, promoveram procissões
Pedindo piedade, paciência para população,
Parábolas, profecias , prometiam petálas , paraíso
Predominou predador.
Paramos, pensamos profundamente:
Porque pobre pesa plástico, papelão,
Pelo pingado , pela passagem, pelo pão;
Porque proliferam pragas, pestes pelo país,
Porque presidente?
Para a princesinha patricinha ,
Prestigio, patrocinio,progresso,patrimonios,
Propriedades, palacetes, porcelanas, pérolas,
Perfumes, plásticas, plumas, paete
Porque prossegue?
Pro plebeu predestinado,
Pranto, perfurações, pêsames, pulseira pro pulso,
Pinga, poeira, pedrada, pagar prestação por prestação,
Parceiros paraliticos, paraplégicos, prostituição.
Personalidades públicas poderiam pressionar!
Permanecem paralisadas, procedimento padrão
Parabéns.
Peço permissão para perguntar,
Porque pele preta, postura parda?
Pô pensador, pisou, pior, posou
Pros playboys, pra platéia
Peço postura, personalidade;
Pros parceiros pras parceiras.
Presidente, Palmares proclama:
Primeiro, presença popular permanente.
Proposta? Pente por pente, pipoco por pipoco,
Paredão para os parasitas.
Papai?
Patricinha!

César Pereira

Publicado em : Poemas no ônibus- Edição 2000

Poesia

Olho o rio
As águas passam
Passa o homem
o nome
o dia
Só não passa
o que for poesia

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cemitério dos Vivos (Lima Barreto)

(...) Está mudo ou quase mudo. Certas formas de loucura têm esse efeito, e manifestações dela são as mais díspares possíveis. Debruçar sobre o mistério dela e decifrá-lo parece estar acima das forças humanas. Conheço loucos, médicos de loucos, há perto de trinta anos, e fio muito que a honestidade de cada um deles não lhes permitirá dizer que tenha curado um só.
Amaciado um pouco, tirando dele a brutalidade do acorrentamento, das surras, a superstição de rezas, exorcismos, bruxarias, etc., o nosso sistema de tratamento da loucura ainda é o da Idade Média: o seqüestro. Não há dinheiro que evite a Morte, quando ela tenha de vir; e não há dinheiro nem poder que arrebate um homem da loucura.(...)Todos eles estão na mão de um poder que é mais forte do que a Morte. A esta, dizem, vence o amor; a Loucura, porém, nem ele.
(...) Há pescadores em faina. Canoas ainda! Herança dos índios! O remo também vem deles! Quantas coisas, dos seus usos e costumes, eles nos legaram? Muitas! A farinha da mandioca, do milho, certas tuberosas, nomes de rios e lugares, muitos, adequados e expressivos. Hoje, a vaidade nacional batiza os lugares com os mais feios nomes que se podem esperar. Enseada Almirante Batista das Neves! Só falta um doutor, também. Esta nossa sociedade é absolutamente idiota. Nunca se viu tanta falta de gosto. Nunca se viu tanta atonia, tanta falta de iniciativa e autonomia intelectual! É um rebanho de Panúrgio, que só quer ver o doutor em tudo, e isso cada vez mais se justifica, quanto mais os doutores se desmoralizam pela sua ignorância e voracidade de empregos. Quem quiser lutar aqui e tiver de fato um ideal qualquer superior, há de por força cair. Não encontra quem o siga, não encontra quem o apoie. Pobre, há de cair pela sua própria pobreza; rico, há de cair pelo desânimo e pelo desdém por esta Bruzundanga. Nos grandes países de grandes invenções, de grandes descobertas, de teorias ousadas, não se vê nosso fetichismo pelo título universitário que aqui se transformou em título nobiliárquico. É o Don espanhol.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Millôr Fernandes

A única diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum.

Não há nada tão grave com a alma humana que um bom psicanalista não possa cobrar.

A semântica é o ópio dos psicanalistas.

A psicanálise é apenas um ponto de encontro entre os malucos clientes e os malucos profissionais da maluquice.

Achar que podemos deixar alguém nos restringir parcialmente a liberdade é igual a achar que podemos perder parcialmente a virgindade.

Um homem está definitivamente velho quando aponta para o próprio sexo e diz: "Isto é um símbolo fálico".

Quando eu era criança, o futuro ia ser radioso, o futuro ia ser limpo, o futuro ia ser feliz, tudo no futuro ia acontecer melhor. Agora, o futuro é a ameaça da bomba, a ameaça da fome, a ameaça da superpopulação e da poluição. É, já não se fazem mais futuros como antigamente.

O objetivo da galinha megalomaníaca é um dia conseguir o pôr-do-sol.

O bom ouvinte nunca diz nada mas está sempre de boca aberta.

Quem vive de esperanças morre muito magro.

O financista é um usurário institucionalizado.

As pessoas que falam muito mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.

Os que vivem combatendo a televisão deveriam ser mais humildes em seu juízo crítico: afinal, 3 milhões de idiotas não podem estar errados.

Eu só não sou o homem mais brilhante do mundo porque nínguem me pergunta as respostas que sei.

A principal qualidade do grande homem e estar morto.

Só há duas espécies de patifes: os que admitem ser, e nós.

O máximo do complexo de inferioridade é a gente ficar imaginando desculpas pro erro que ainda não cometeu.

O doente sempre se cura sozinho. A natureza produziu o médico apenas para mandar a conta.

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à busca da infelicidade.

A vida não é um retrato: é uma caricatura, e nem parecida.

O grave problema do falsário é controlar a tentação de fazer uma nota de 200.

O mal do mundo é que deus envelheceu e o diabo evoluiu.

Os Dez Mandamentos nunca impediram nada. mas deram cada idéia.

Se você não pode realizar seus sonhos realize ao menos os seus pesadelos.

Quem cedo madruga fica com sono o dia todo.

Descobriram, afinal, porque o Rio está cada vez mais chato. São Paulo está com um vazamento.

Política é uma coisa ampla, abrangente, universal. Os que só entendem de política militante não entendem de política - gostam é de militar.

Uma coisa é definitiva: quem se curva aos opressores mostra o traseiro aos oprimidos.

Fim de histórinha moderna:"Aí eles não casaram e foram felizes para sempre".

Só existe uma coisa mais desamparada que um recém-nascido: é um recém pai.

Nossa liberdade começa onde podemos acabar com a do outro.

As más companhias não fazem o homem mau. Na verdade as más companhias, e sobretudo as péssimas companhias, fazem a gente parecer muito melhor do que é.

Amizade é uma paixão que não foi pra cama.

Todos me dão um tremendo apoio moral, quando o que estou precisando é de uma ajuda decididamente canalha.

Quando o cara diz que fala por experiência própria é porque não adquiriu experiência bastante pra calar a boca.

A pobreza não dá felicidade, isso estou cansado de saber. Os ricos, por sua vez, dizem que a riqueza também não dá felicidade. Mas isso eu ainda pretendo verificar.


Millôr Fernandes - Reflexões Sem Dor

segunda-feira, 11 de maio de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

Cartola

Cartola - Peito vazio

Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio
Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança
Vou seguir os conselhos
De amigos
E garanto que não beberei
Nunca mais
E com o tempo
Essa imensa saudade que sinto
Se esvai

Cartola - O mundo é um moinho


Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que iras tomar

Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões à pó

Preste atenção querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sendo outra Pessoa!

EU NUNCA GUARDEI REBANHOS - ALBERTO CAEIRO

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr-do-sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.


Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,

Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr-do-sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer coisa natural-
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.


domingo, 3 de maio de 2009

Quintão de Quintana

Pequenas atribuições anedóticas:

"Se aparecer alguma coisa psicografada por mim, não fui eu quem psicografou"

"O fantasma é um exibicionista póstumo"

"Um dia, por dever de ofício, fui a um desses concursos de robustez infantil. Havia cada mãezinha..."

"O que há de mais admirável nas democracias é a facilidade com que qualquer pessoa pode passar da crônica policial para a crônica social"

Sobre os cuidados medicamentosos "A eternidade me dá um cansaço"

Convidado a um encontro, por e com Manuel bandeira: "Mas você não imagina como sou chato no intervalo dos poemas"

"Sempre acordo meio burro"

"Uma boa causa jamais salvou um mau poeta"

"Os poetas de agora não são filiados a escola nenhuma, e isso vem da falta de cultura deles. A compensação está justamente aí: não se filiam a ninguém e metem as caras. Como não embarcam na mesma canoa, não correm o risco de naufragarem todos ao mesmo tempo..."

"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada a ver com isso"

"Autodidata: ignorante por conta própria"

Espelho Mágico:

Dos milagres

"O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
O milagre é acreditarem nisso tudo"

Da felicidade
"Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz"

Do amoroso esquecimento
"Eu, agora - Que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?"

Da experiência
"A experiência de nada serve à gente.
É um médico tardio, distraído:
Põe-se a forjar receitas quando o doente
Já está perdido..."


Alma errada

Há coisas que a minha alma,já mortificada, não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há…e quem é que hoje faz questão de virgindades…
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente,o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…


INVITATION AU VOYAGE

Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão –
se cada um de vós abrisse um livro de poemas…
faria uma verdadeira viagem…
Num livro de poemas se descobre de tudo,
de tudo mesmo!
- Inclusive o amor e outras novidades.

O MORTO

Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco,
Já eram horas de dormir de novo!

Mario Quintana

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Dando Bandeira

Aproveito a ocasião para jurar que jamais fiz um poema ou verso ininteligível para me fingir de profundo sob a especiosa capa de hermetismo.Só não fui claro quando não pude(...)
Manuel bandeira - Itinerário de Pasárgada

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

A cinza das horas -Teresópolis, 1912

Nietzchiana

- Meu pai, ah que me esmaga a sensação do nada!
- Já sei, minha filha... É atavismo
E ela reluzia com as mil cintilações do Êxito intacto.

Estrela da manhã

Noturno da Mosela

A noite... O silêncio...
Se fosse só o silêncio!
Mas esta queda d'água que não pára!que não pára!
Não é de dentro de mim que ela flui sem piedade?...
A minha vida foge, foge, - e sinto que foge inutilmente!

O silêncio e a estrada ensopada, com dois reflexos
[ intermináveis...

Fumo até quase não sentir mais que a brasa e a cinza em
[minha boca.
O fumo faz mal aos meus pulmões comidos pelas algas.
O fumo é amargo e abjeto. Fumo abençoado, que és
[amargo e abjeto!

Uma pequenina aranha urde no peitoril da janela a teiazinha
[ levíssima.

Tenho vontade de beijar esta aranhazinha....

No entanto em cada charuto que acendo cuido de encontrar o
[gosto que faz esquecer...

Os meus retratos... Os meus livros... O meu crucifixo de
[marfim...

E a noite...

O ritmo dissoluto - Petrópolis, 1921

Bacanal

Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé Momo!

Lacem-na toda, multicores,
As serpentes dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vênus!

Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
- Vinhos!... o vinho que é o meu fraco!...
Evoé Baco!

O alfanje rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!...
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!

Carnaval,1918

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Definição

1. Produção animal ou vegetal contrária à ordem regular da natureza.
2. Ser monstruoso das lendas.
3. Animal de tamanho extraordinário.
4. Fig. Pessoa muito feia.
5. Pessoa perversa, desnaturada.
6. Prodígio, portento, assombro (a boa parte).

7. Monstruoso; colossal.
8. Impr. Muito grande (em quantidade).

terça-feira, 14 de abril de 2009

Baião de Lacan (Aldir Blanc)


khrystal - baião de lacan


A terra em transe franze
Racha pela beira
Feito cabaço de freira
Solta e lá vem um!
Mas o Brasil ainda batuca na ladeira:
Bafo, Congo, Exu, Taieira
Mais Cacique e Olodum...

Deus salve o budum!
Viva o murundum!
E é tuntum, e é tumtum!

Eu ouço muito elogio à barricada
Procuro as nossa por aqui
Não vejo nada
Só tomo arroto
E perdigoto no meu molho
Se tento ver mais longe
Tacam o dedo no meu olho
Quem fica na barreira
Pode até ficar roncolho
Um empresário quis
Que eu fosse a Massachutis
Oquêi, my boy! -
Cheguei pra rebentar e putz!
Voltei sem calça e um quis me seqüestrar...
Ao conferir o saldo
No vermelho fui parar
To com João Ubaldo:
Chega dessa Calcutá

- Eu to Amil por aí
Atleta do Juqueri
Um sócio a mais da Golden Cross
De carteirinha...
Tanto sofri nesse afã
Que um seguidor de Lacan
Diagnosticou stress
E me mandou pra roça descansar...

Eu fui pro Limoeiro
E encontrei o Paul Simon lá
Tentando se proclamá gerente do mafuá...
Se os peão não chiá
O Boi Bumba vai virar vaca

A casa (Vinícius de Moraes)

Animação:Andrés Lieban
A casa (Vinícius de Moraes)


Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.

A Figueira do Inferno


Retrato da sabedoria popular sobre plantas alucinógenas!

Invenção da infância

Há como reinventar ?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Cinquentenário

Há quase 50 anos faleceu Heitor Villa-Lobos

Trenzinho caipira

Kukukaya (Xangai/Cátia de França)

Depoimento sobre Xangai no jogo de botão

Cátia de França(descubra, caso não viste, já)

São quatro jogadores, nesta mesa
Frente a frente para jogar
São quatro cabra de peia
No desafio do jogo da bruxa
Em noite de lua cheia
São quatro jogadores, nesta mesa
Dando as cartas, no jogo surdo da vida

Kukukaya, eu quero você pra mim
Kukukaya, mas olha esse cachorro aqui
Kukukaya, eu quero você aqui
Kukukaya, mas preste a atenção em mim

São quatro jogadores, nesta mesa
Dando as cartas, sem dar falsa folga a ninguém
São quatro cabra de peia
De riso dócil e rima fácil
Não vá se enganar, é, meu bem
Que eu tenho dois olhos,
Eu tenho dois pés
Dor dos meus olhos vá pros meus pés
E dos meus pés, pra dentro da terra
Da terra para a morte

Kukukaya, eu quero você pra mim
Kukukaya, mas olha esse cachorro aqui
Kukukaya, eu quero você aqui
Kukukaya, mas preste a atenção em mim

Mas o ovo é redondo, ventre redondo é
Vem amor, vem com saúde
Aonde eu sou chama, seja você brasa
E aonde eu sou chuva, seja você água

Milagres do povo (Caetano Veloso)





Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar
E o coração que é soberano e que é senhor
Não cabe na escravidão, não cabe no seu não
Não cabe em si de tanto sim
É pura dança e sexo e glória, e paira para além da história
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Xangô manda chamar Obatalá guia
Mamãe Oxum chora lagrimalegria
Pétalas de Iemanjá Iansã-Oiá ia
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
É no xaréu que brilha a prata luz do céu
E o povo negro entendeu que o grande vencedor
Se ergue além da dor
Tudo chegou sobrevivente num navio
Quem descobriu o Brasil?
Foi o negro que viu a crueldade bem de frente
E ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia

terça-feira, 10 de março de 2009

Volte para o seu lar (Arnaldo Antunes)

Aqui nessa casa ninguém quer a sua boa educação.

Nos dias que tem comida, comemos comida com a mão.
E quando a polícia, a doença, a distância ou alguma discussão
Nos separam de um irmão,
Sentimos que nunca acaba de caber mais dor no coração.
Mas não choramos à toa,
Não choramos à toa.

Aqui nessa tribo ninguém quer a sua catequização.
Falamos a sua língua mas não entendemos seu sermão.
Nós rimos alto, bebemos e falamos palavrão
Mas não sorrimos à toa.
Não sorrimos à toa.

Aqui nesse barco ninguém quer a sua orientação.
Não temos perspectiva, mas o vento nos dá a direção.
A vida que vai à deriva é a nossa condução.
Mas não seguimos à toa.
Não seguimos à toa.

Volte para o seu lar,
Volte para lá

sexta-feira, 6 de março de 2009

Linhas tortas (Sérgio Vaz)

Passou a vida inteira
numa casa de madeira
emprestada pela miséria.

Um dia,
cheia de alegria artificial,
recebeu de um amigo
um pedaço de casa própria
bem no meio da cabeça.

Com a cabeça aberta
começou a duvidar de
Deus.

Linhas tortas (pg.58 do livro O colecionador de pedras-Sérgio Vaz)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Parizotianas*

Eu sou apenas um pé de alface enquanto tu és um beijo solto no espaço.

Essa vida é um pau-de-sebo com uma nota falsa na ponta.

É melhor avermelhar por segundos do que viver a vida toda amarelando.

*Avô meu, Argemiro Parizoto de Souza.

Sérgio Sampaio


Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua -Sérgio Sampaio

Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou

Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou

Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender


Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval...

Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Ginga, pra dar e vender

RODA MORTA 

O triste nisso tudo é tudo isso
Quer dizer, tirando nada, só me resta o compromisso
Com os dentes cariados da alegria
Com o desgosto e a agonia da manada dos normais
O triste em tudo isso é isso tudo
A sordidez do conteúdo desses dias maquinais
E as máquinas cavando um poço fundo
entre os braçais, eu mesmo e o mundo dos salões coloniais
Colônias de abutres colunáveis
Gaviões bem sociáveis vomitando entre os cristais
E as cristas desses galos de brinquedo
Cuja covardia e medo dão ao sol um tom lilás
Eu vejo um côco verde no meu fraque
E as moscas mortas no conhaque que eu herdei dos ancestrais
E as hordas de demônios quando eu durmo
Infestando o horror noturno dos meu sonhos infernais
Eu sei que quando acordo eu visto a cara falsa e infame
como a tara do mais vil dentre os mortais
E morro quando adentro o gabinete
Onde o sócio e o alcaguete não me deixam nunca em paz
O triste em tudo isso é que eu sei disso
Eu vivo disso e além disso eu quero sempre mais e mais

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ubatuba - Lendas & Outras Estórias

Ubatuba - Lendas & Outras Estórias
de Washington de Oliveira ("seo" Filhinho)

Lenda do Corcovado (Mina de Ouro)

A estória que vou contar nada tem absolutamente com o famoso pico que orna o belíssimo pano de fundo do maravilhoso cenário que é a Baía da Guanabara. O Corcovado em questão é o que se encontra próximo desta cidade, para as bandas do sudoeste.

É uma formidável corcunda de pedra que se eleva da silhueta da Serra do Mar, da qual é, nestas redondezas, o ponto mais elevado, fazendo realçar essa giba desde Picinguaba até a ponta do Martim de Sá, nas proximidades de Caraguatatuba.

Aqui o Corcovado não tem a airosidade e o prestígio do seu colega do Rio de Janeiro, não recebendo visitas de turistas deslumbrados. Não recebe, mesmo porque as rejeita. Castiga severamente quem ousa mergulhar no mistério em que vive.

Ouçamos:

Pouco depois de Jordão Homem da Costa vir com diversas famílias povoar a antiga aldeia de Iperoig, já então com o nome de Ubatuba, aventureiros daquele tempo quiseram ir ao topo do Corcovado. Os primeiros que isso tentaram foram dois rapazes, jovens ainda, Pablo e Juan, filhos de um fidalgo espanhol, proprietário aqui de vasta sesmaria.

Partiram aos primeiros clarões de uma fresca madrugada de abril, confiantes no êxito dessa aventura. Mas, passaram-se dias sem que voltassem, começando aí a inquietação na família dos moços. Julgou-se que eles se haviam perdido, mas, ao certo, não se conseguiu saber por que não regressavam.

Um escravo do espanhol, favorito de Pablo, prometeu ao seu amo ir buscar notícias do "Sinhô Moço" no cimo do gigante de pedra. Seus companheiros, ao pé da escarpa, viram-no subir agilmente agarrando-se aos cipós e às saliências da pedra e depois sumir lá no alto por entre moitas de samambaias.

Esperaram-no até o dia seguinte. Nada. Voltaram outros dias à sua procura, mas, como os desventurados Pablo e Juan, nunca mais o preto apareceu.

Em 1697, quando ao primeiro centenário da morte de José de Anchieta, veio de São Vicente rezar missa na Capelinha de Ubatuba por intenção da alma do grande catequizador, frei Bartolomeu, da Ordem dos Franciscanos. Esse frade permaneceu mais alguns dias nesta vila e, ouvindo dos habitantes a narrativa do fato acima relatado, e de outros que se sucederam, declarou decididamente que iria ao topo do Corcovado, onde, para provar a ascensão, colocaria uma grande bandeira vermelha, perceptível aos que o acompanhassem até ao pé, da aterrorizadora escarpa. E se bem o disse melhor o fez. A grande comitiva que nesse lugar ficou postada viu, horas depois, bem lá no alto, o desfraldar da sanguinolenta bandeira que frei Bartolomeu levara consigo.

Um frêmito de alegria espalhou-se por todos aqueles observadores, ansiosos pela volta do padre que, de regresso por certo desvendaria o porquê misterioso do Corcovado. Esperaram-no debalde. Alguns homens dos mais corajosos dispuseram-se a ficar durante a noite à espera do missionário. Mas era por demais apreensiva a situação daqueles homens. O silêncio parecia estrangular a Natureza que, de instante a instante, num arranco horrível, gemia agonicamente pela garganta de um pássaro noturno.

Meia noite! Seria meia noite, quando uma exclamação quase de alívio partiu daqueles peitos ofegantes:

- Ei-lo!

De fato, pela rocha nua, lentamente, arrastava-se frei Bartolomeu, pelo mesmo trajeto pelo qual havia subido. Devia estar cansado. De vez em quando parava arrumando o hábito marrom, sustendo na cintura o frouxo cordão branco, e parecendo levar por vezes aos lábios o níveo crucifixo de marfim que lhe pendia ao peito. Um vago clarão de lua jorrou sobre a monástica figura denunciando um livor funéreo em suas faces tristes e descamadas. Correram todos para recebê-lo, mas...

- Onde está frei Bartolomeu?!, perguntaram-se com os olhos. Não mais o viram. Esperaram-no mais algum tempo, porém o frade não desceu. Um deles gritou e o eco respondeu lá no fundo, nas gargantas sombrias da cordilheira.

Logo depois um gemido horrível partiu, não sabem de onde, envolvendo a floresta inteira!

Um frio de morte, uma sensação ignota agitou as carnes daqueles homens. Sem articular palavra, lívidos, completamente desnorteados, abandonaram em disparada aquele sítio maldito, ouvindo o eco sumir longe, muito longe, na imensidão da noite!

* * *

Hoje ainda, à meia noite, quem se for postar ao pé, da misteriosa elevação verá a figura do venerável frei Bartolomeu descer lentamente pela rocha nua, sem nunca, porém, chegar à base.

* * *

Dizem que o Corcovado é encantado, ocultando uma rica mina de ouro pertencente a um gênio que a defende dos homens. Ouro lá existe, e vou provar com outro fato verdadeiro, como verdadeiro é o que acabo de contar.

Lenda: A Mina de Ouro

Em vista dos misteriosos fatos contidos em minha narrativa anterior, ninguém mais se atrevia aproximar-se do "Pico Encantado". Muitos anos depois do desaparecimento de frei Bartolomeu, o capitão Manoel Fernandes Corrêa instalou uma belíssima fazenda na Praia Dura.

Um dia, Alice, filha única do capitão Corrêa, saiu à caça nas proximidades. Vendo-se só, longe da vista severa do pai, admirando o cenário belíssimo que se deparava aos seus olhos virgens de tanta maravilha, embrenhou-se incautamente pela mata. Súbito, um medo vago e inexplicável percorreu aquele corpo misto de anjo e de mulher. Quis voltar mas compreendeu que estava perdida. Correu, gritou, sentiu faltarem-lhe as forças, e espinhos aduncos rasgaram-lhe as carnes alabastrinas. Um último esforço e caiu desfalecida.

Ao cair da noite, quando o sino melancólico da fazenda chamava do eito os escravos para a ceia, era indescritível o desespero do capitão Corrêa pelo desaparecimento da filha. Mandou reunir a turba negra e, pela primeira vez suplicante e dócil, o impiedoso senhor proclamou que daria liberdade imediata ao servo que lhe trouxesse, com a maior rapidez possível, sua querida Alice.

Nenhum crédito deram os escravos àquelas palavras brotadas de um coração empedernido, momentaneamente compungido com o desaparecimento da filha, mas a adoração que dedicavam a Alice - angelical e bondosa criatura - fez daqueles homens exaustos umas feras bravias.
Sem tomar alimento algum cada qual partiu para um lado, sem esperança de recompensa, mas querendo ser o primeiro a beijar a mão da "Nina Alice". Pedro, um escravo robusto, forte, parou repentinamente na corrida em que ia. Sua idéia embrutecida vagueou procurando recordar-se da companheira amada e de uma filhinha de dois anos de idade, que o impiedoso capitão vendera, por castigo! Quis esconder-se e voltar no dia seguinte "sem notícias de nina Alice", mas... - Alice! - esse nome repelia a idéia de vingança que fervia em seu cérebro inculto, porém, compreensivo. Odiava o pai mas adorava a filha. A adoração venceu. Enxugou as lágrimas que lhe corriam pelas faces retintas e reencetou a busca interrompida há pouco.

Cansado, parou. Sentou-se um pouco para reanimar-se, mas foi logo atraído por um farfalhar de folhas secas acompanhado de um gemido surdo e prolongado, partido de pouca distância. Aproximando-se cautelosamente percebeu estendido no chão um vulto alvo de mulher, mal distinguido na escuridão da noite.

- Nina Alice! - esclamou o preto com sua voz fanhosa e forte.
- Oh, salva-me! Tira-me daqui... Quem é? Meu pai? Luz... Quero luz...

Horas depois, nos robustos e retintos braços de Pedro, Alice subia os degraus da "Casa Grande".

Horrores da escravidão! No dia seguinte, Pedro, exausto pelo esforço despendido durante a noite, gemia sob açoites, no tronco, porque não podia trabalhar.

Alice, sabendo o que se passava com o seu salvador, exigiu do pai o que na véspera prometera espontaneamente. Liberto, Pedro beijou as mãos de "Nina Santa" e partiu sem destino, para os lados do Corcovado, e lá instalou sua choça, ao lado de uma cascatinha murmurante, próxima, bem próxima da escarpa misteriosa.

Corria de boca em boca a aventura de "Pai Pedro". O preto vinha sempre a Ubatuba com pequenos canudos de bambu cheios de grânulos auríferos, que trocava por fumo, cachaça e alguns gêneros com os quais assegurava sua subsistência.

Essa notícia foi bater também na fazenda do capitão Corrêa, que duvidava do que lhe diziam, mas, um dia, ele mesmo viu na vila as negociações que eram propaladas. Cheio de inveja e cobiça, pensou logo em se apoderar do tesouro do preto. Certa noite, em companhia de um grupo armado, foi à choça de Pedro, capturando seu ex-escravo e levando-o para a sua fazenda. Ali chegando, sem mais delonga, Pedro era premido a contar como descobrira aquele fabuloso tesouro.

- Sinhô, Pedro num pode cuntá, pruque...

Uma violenta chicotada estalou nas faces já rugosas do mártir, cortando-lhe a frase. Depois, novas torturas, imprecações, terríveis ameaças, até que Pedro resolveu iniciar a narrativa, na linguagem carregada e fanhosa, toda peculiar aos pretos africanos. Disse que foi morar no sítio solitário onde o encontraram, bendizendo sempre o nome de Alice, até que um dia, na vila, veio a saber da morte da moça, sua libertadora. De volta à choça, um profundo pesar oprimia-o todo.
Pedro parou para disfarçar um soluço e enxugar uma lágrima, ao que o capitão esbravejou:

- Continua, bandido!

E Pedro continuava, trêmulo, acovardado.
À noite não conseguira dormir, parecendo-lhe ouvir ao longe a voz cristalina da moça numa canção de amor. De repente a porta do casebre tremeu e escancarou-se, penetrando por ela um vulto diáfano de mulher. Era Alice! Ele a reconheceu.
Como que agarrado por mãos invisíveis, não se pôde mover no lugar em que se achava, mas ouviu perfeitamente a visão dizer:

- Pedro, tu foste um dia o meu salvador. Dei-te a liberdade, mas sei que sofres, neste exílio onde te arrojou a impiedade de meu pai. Não te assustes e ouve-me. Não muito longe daqui, oculto nas entranhas da terra, existe uma mina de ouro. Ela será tua sob a única condição de nunca revelares a outrem esse lugar cobiçado. Se isso tentares, a vingança do gênio protetor da mina cairá sobre tua cabeça, ouviste? Cuidado, pois, e segue meus passos.

- Negro maldito! - gritou o capitão - não retardes a revelação. Onde está o tesouro?
- Sinhô... tá lá pra banda do...

E o surdo ruído do baque de um corpo ecoou na sala da "Casa Grande". Pedro caira morto, fulminado, antes de revelar o sítio misterioso de tão cobiçado tesouro, que até hoje jaz nas proximidades do Corcovado.

Pedro bem dizia:
- Negro num pode cuntá...

Ubatuba - Lendas & Outras Estórias
de Washington de Oliveira ("seo" Filhinho)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Será que é isso que eu necessito (Titãs)

Quem é que precisa tomar cuidado com o que diz?
Quem é que precisa tomar cuidado com o que faz?
Será que é isso o que eu necessito?
Será que é isso o que eu necessito?
Ninguém fez nada, ninguém tem culpa.
Ninguém fez nada de mais, filha da puta!
Quem aqui não tem medo de passar o ridículo?
Quem aqui, como eu, tem a idade de Cristo quando morreu?
Quem é que se importa com o que os outros vão dizer?
Quem é que se importa com o que os outros vão pensar?
Será que é isso o que eu necessito?
Será que é isso o que eu necessito?
Não sei o que você quer, nem do que você gosta.
Não sei qual é o problema. Qual é o problema, seu bosta?
Quem aqui não tem medo de se achar ridículo?
Quem aqui, como eu tem a idade de Cristo quando morreu?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Resposta ao tempo (Aldir Blanc/Cristovão Bastos)

Executada por Leila Pinheiro

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento

Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei

Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há fôlhas no meu coração
É o tempo

Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto

E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto

E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, e ele não vai poder
Me esquecer

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Maldição de Cunhambebe

Maldição de Cunhambebe - Narrativa de Renato Nunes,publicada no jornal "O Guaruça" em 21/11/2001.
"Logo após a descoberta do Brasil em 1500, os portugueses tiveram que dominar e garantir a posse das terras contra vários reinos europeus que naquele tempo se expandiam descobrindo novas terras ou simplesmente tomando a terra dos outros à força, fazendo depois acordos com a coroa para acomodar a convivência entre eles na Europa. Nessa época, na posse, no domínio e nos acordos valia a lei do mais forte. Os holandeses e os franceses eram os mais terríveis interessados em tomar dos portugueses as terras descobertas. Os espanhóis que também foram grandes conquistadores lutavam para manter o outro lado do vasto continente. Para dominar a zona costeira e explorar o interior das terras descobertas, os portugueses usavam os índios como escravos no trabalho e nas lutas, capturados à força e muita brutalidade. E é aí que entra a história de Cunhambebe. Os índios eram pacíficos, não conheciam nada dos brancos, só conheciam a natureza que lhes dava tudo de comer e de curar alguma doença do mato, ferimentos ou comida mal digerida. Seus deuses eram as forças da natureza. Não tinham armas de fogo nem facas e facões porque não conheciam o metal, nem prisões. Os portugueses, para usar seu trabalho escravo, impunham grande pavor, matando, esfaqueando e prendendo com correntes de ferro os desobedientes.
Cansados de tanto sofrimento os índios começaram a se revoltar atacando os invasores em suas aldeias, porém, poupando as mulheres e crianças que para eles são criaturas sagradas. Diferente dos portugueses que quando atacavam arrasavam tudo matando quem estivesse pela frente. Caciques de diversas tribos, liderados por Cunhambebe, (Koniam-bebê) homem de dois metros de altura cujo nome vem de sua gagueira e fala arrastada, resolveram pôr um fim a tantas injustiças e combinaram um grande ataque para expulsar de vez aqueles homens brancos muito maus. Comandados por Cunhambebe e pelos caciques Aymberê, Caoquira e Pindobossú os índios eram muito numerosos. Os registros do Padre José de Anchieta indicam a chegada de mais de duzentas canoas com mais de vinte índios cada uma, além dos milhares que vinham por terra, provenientes das tribos situadas nas planícies acima da Serra do Mar. Se a batalha tivesse acontecido os portugueses seriam arrasados e expulsos do litoral de São Paulo, e os franceses, que dominavam o Rio de Janeiro e que se relacionavam muito bem com os índios daquela região, teriam tomado à terra brasileira das mãos da Coroa Portuguesa. A história seria outra. Mas a batalha não aconteceu. Os portugueses auxiliados pelos jesuítas que tinham grande poder sobre a bondade na terra e suas recompensas na eternidade conseguiram aplacar a ira dos chefes morubixabas com promessas de castigos divinos e muitas ameaças do furor das forças da natureza, que era a única coisa real que orientava as ações e os pensamentos daqueles homens primitivos em seu estado natural mais puro. É verdade que alguns índios duvidavam daquelas palavras, mas seu temor era tanto que não ficaram senão algumas memórias dessas dúvidas. Existe o registro de uma reclamação do cacique Aymberê que foi tema de uns versos escritos sobre aqueles tempos, que revela bem as dificuldades dos índios com as coisas que lhes eram ditas pelos padres. Diz um trecho do poema encontrado em velhos arquivos baseado nas indagações de Aymberê ao padre José de Anchieta:
"Não conhecem acaso os portugueses.
Essa pia doutrina que nos pregas?
Como, pois contra nós, em guerra assídua,
Sem medo de seu Deus, cruéis se mostraram?
Ou, só porque de deus ao filho adoram,
Lhes foi dado o poder de perseguir-nos?
Mas se do céu as leis desobedecem que deus é esse então que os deixa impunes,
E vem por tua boca ameaçar-nos?”
Os índios recolheram seus arcos, flechas e bordunas em atenção às promessas de paz e convivência com os brancos garantidas pelos jesuítas.
Depois de uma viagem do cacique Cunhambebe a São Vicente junto com o padre Manoel da Nóbrega para acerto dos acordos de fim das hostilidades, foi combinada a Paz de Yperoig, que serviu de argumento para o desânimo dos franceses que queriam ver os portugueses expulsos. Cunhambebe e seus guerreiros acreditaram na boa fé dos acordos.
Os vários chefes com seus homens se dispersaram, se desarmaram e voltaram para suas tribos, e até hoje se comemora a paz de Yperoig como uma data importante que garantiu a unidade do Brasil contra as ameaças de divisão, graças ao trabalho de catequese e união promovido por Anchieta, Nóbrega e seus companheiros.
Mas a história não comenta que logo depois de terem se desarmado e se dispersado os índios foram massacrados pelos rudes e estúpidos colonizadores portugueses interessados no ouro, nas riquezas e nas terras descobertas. "
Cunhambebe morreu doente, ferido no corpo e na alma, envergonhado diante da humilhação a que levou seu povo por ter acreditado na palavra dos brancos.
Sabendo da importância que os portugueses deram àquela data. Pouco antes de morrer o grande cacique lançou uma maldição contra os invasores e seus descendentes dizendo que :
" As terras de Yperoig que eles tanto quiseram seriam as terras do fracasso"
"Nada daria certo, tudo que se começasse não chegaria ao fim, grande entusiasmo no início e resultado miserável no final"
" As mangueiras de Ubatuba nunca dariam frutos"
" O céu iria chorar toda a traição e o sangue derramado"

Mas a maldição dos índios não é eterna, seu desejo não é vingança e sim serem tratados com dignidade e respeito, eles pedem reconhecimento.
Para acabar com os efeitos da Maldição de Cunhambebe existe o " Desagravo " dito pelos Pajés
O "Desagravo" seria um reconhecimento público do massacre que eles sofreram e, assim disse o Pajé :
"Este é o ano de Tupã (2008 de acordo com a crença indígena) e será o último ano para realizar o Desagravo.O Desagravo seria quando um "chefe branco" reconhecer publicamente a injustiça que os índios sofreram por serem os legítimos donos da terra.

Agora perguntamos :
Porque chove tanto em Ubatuba?
Porque cidades vizinhas com atrativos bem menores aparecem mais que Ubatuba?
Porque este constante abre e fecha de muitos comércios que tem tudo para dar certo e não dão?
Porque as mangas não crescem em Ubatuba se o clima é favorável e todas as cidades vizinhas têm lindas mangas?

Enfim ....tudo isso nos faz pensar naquele velho ditado espanhol :
“Yo no creo em brujas, pero que las hay , las hay ! “!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Mal secreto(Jards macalé / Waly Salomão)

Não choro,
Meu segredo é que sou rapaz esforçado,
Fico parado, calado, quieto,
Não corro, não choro, não converso,
Massacro meu medo,
Mascaro minha dor,
Já sei sofrer.
Não preciso de gente que me oriente,
Se você me pergunta
Como vai?
Respondo sempre igual,
Tudo legal,
Mas quando você vai embora,
Movo meu rosto no espelho,
Minha alma chora.
Vejo o rio de janeiro
Comovo, não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho,
Não fico calado, não fico parado, não fico quieto,
Corro, choro, converso,
E tudo mais jogo num verso
Intitulado
Mal secreto.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Morphine


Cure for pain - Morphine


Where is the ritual
And tell me where where is the taste
Where is the sacrifice
And tell me where where is the faith
Someday there'll be a cure for pain
That's the day I throw my drugs away
When they find a cure for pain
Where is the cave
Where the wise woman went
And tell me where
Where's all that money that I spent
I propose a toast to my self control
You see it crawling helpless on the floor
Someday there'll be a cure for pain
That's the day I throw my drugs away
When they find a cure for pain (x2)
When they find a cure find a cure for pain

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Catavento e Girassol (Guinga e Aldir Blanc)

Cantada por Leila Pinheiro

Meu catavento tem dentro
O que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido
Eu te pedi sustenido
E você riu bemol
Você só pensa no espaço
Eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio
Você é litorânea
Quando eu respeito os sinais
Vejo você de patins
Vindo na contra-mão
Mas, quando ataco de macho
Você se faz de capacho
E não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega
Nós não ouvimos conselho:
Eu sou você que se vai
No sumidouro do espelho
Eu sou do Engenho de Dentro
E você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio
E você é expansiva
(o inseto e a flor)
Um torce pra Mia Farrow
O outro é Woody Allen...
Quando assovio uma seresta
Você dança, havaiana
Eu vou de tênis e jeans
Encontro você demais:
Scarpin, soirée
Quando o pau quebra na esquina
Você ataca de fina
E me oferece em inglês:
É fuck you, bate-bronha
E ninguém mete o bedelho:
Você sou eu que me vou
No sumidouro do espelho
A paz é feita no motel
De alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois
Que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval
Aumentam os desenganos:
Você vai pra Parati
E eu pro Cacique de Ramos
Meu catavento tem dentro
O vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora
O escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade
Você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço
Você é tão espontânea!
Sei que um depende do outro
Só pra ser diferente
Pra se completar
Sei que um se afasta do outro
No sufoco somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser
E eu sou mais vermelho
Mas os dois juntos se vão
No sumidouro do espelho

domingo, 23 de novembro de 2008

Ciúme do perfume (Itamar Assumpção)

SOM e BOCAS QUE APROXIMAM e
CRESCEM. SOMEM.

Por mais que eu fume fume não consigo estar imune
Incólume desse ciúme quando sinto o seu perfume
A minha cabeça zune
Puxo a faca de dois gumes no negrume o aço lume eu
Corto o laço que nos une, perfume de flor de acácia
Perfumes de flor-de-lis perfume de orquídea perfume
De amarílis perfume de flor de lótus perfume de meretriz
Perfume de flor de cactos perfume de flor de anis
Por mais que eu...

sábado, 8 de novembro de 2008

Deus me dê Grana (Marcelo Nova/ Karl Hummel/ Gustavo Mullem)

Correndo risco (1986)

"Senhor, vou lhe falar: Nunca pedi assim!
Sempre rezei pros outros
Mas desta vez é pra mim

Perdi tudo o que eu tinha
Sei que fiz muita besteira
Mas se você não achar o meu bolso, Deus
Por favor coloque na carteira

Se eu fico aqui parado, nessa bobeira sem fim
Logo, logo os "hôme" vão estar atrás de mim
Você tá numa boa, é o dono do paraíso
Então me empresta uns trocados, Deus, é só disso que eu preciso

Deus me dê grana, Deus, por favor
Deus me dê grana, seu filho tá na de horror

De manhã bem cedo, alguém bate em minha porta
É a proprietária que eu sonhei estava morta
Pulo pela janela na maior correria
Mas é muito difícil, Deus, com a barriga vazia

Deus me dê grana, Deus, por favor
Deus me dê grana, seu filho tá na de horror

Quando passa aquela loura, que mora aqui do lado
Só de imaginar eu fico super excitado
Mas como eu posso armar uma treta decente
Se até me falta pasta, Deus, pra eu escovar os dentes

Deus me dê grana, Deus, por favor
Deus me dê grana, seu filho tá na de horror

Senhor, eu sei que você é gente fina
Sei também que dureza nunca foi a minha sina
Aceito de bom grado uma bolada qualquer
Pode me dar em cheque, Deus, ou em dólar se puder

Deus me dê grana, Deus, por favor
Deus me dê grana, seu filho tá na de horror"

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Cultura Lira Paulistana (Itamar Assumpção?)

A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura
Pobre cultura como pode se segura
Mesmo assim mais um pouquinho
E seu nome será amargura ruptura sepultura
Também pudera coitada representada
Como se fosse piada
Deus meu por cada figura sem compostura
Onde era ataulfo tropicália
Monsueto dona ivone lara campo em flor
Ficou tiririca pura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Que droga merda
Cultura não é uma tchurma
Cultura não é tcha tchura
Cultura não é frescura
A brasileira é uma mistura pura uma loucura
A textura brasileira é impura mas tem jogo de cintura
Se apura mistura não mata
Cultura sabe que existe miséria existe fartura e partitura
Cultura quase sempre tudo atura
Sabe que a vida tem doce e é dura feito rapadura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Cultura sabe que existe bravura agricultura
Ternura existe êxtase e agrura noites escuras
Cultura sabe que existe paúra botões e abotoaduras
Que existe muita tortura
Cultura sabe que existe cultura
Cultura sabe que existem milhões de outras culturas
Baixaria na cultura tanto bate até que fura
Socorro elis regina
A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura
Pobre cultura
Como pode se segura
Mesmo assim mais um tiquinho
Coitada representada
Como se fosse um nada
Deus meu por cada feiúra
Sem compostura
Onde era pixinguinha elizeth macalé e o zé kéti
Ficou tiririca pura
Só dança de tanajura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Que pop mais pobre pobre pop

Composição?