Aproveito a ocasião para jurar que jamais fiz um poema ou verso ininteligível para me fingir de profundo sob a especiosa capa de hermetismo.Só não fui claro quando não pude(...)
Manuel bandeira - Itinerário de Pasárgada
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
A cinza das horas -Teresópolis, 1912
Nietzchiana
- Meu pai, ah que me esmaga a sensação do nada!
- Já sei, minha filha... É atavismo
E ela reluzia com as mil cintilações do Êxito intacto.
Estrela da manhã
Noturno da Mosela
A noite... O silêncio...
Se fosse só o silêncio!
Mas esta queda d'água que não pára!que não pára!
Não é de dentro de mim que ela flui sem piedade?...
A minha vida foge, foge, - e sinto que foge inutilmente!
O silêncio e a estrada ensopada, com dois reflexos
[ intermináveis...
Fumo até quase não sentir mais que a brasa e a cinza em
[minha boca.
O fumo faz mal aos meus pulmões comidos pelas algas.
O fumo é amargo e abjeto. Fumo abençoado, que és
[amargo e abjeto!
Uma pequenina aranha urde no peitoril da janela a teiazinha
[ levíssima.
Tenho vontade de beijar esta aranhazinha....
No entanto em cada charuto que acendo cuido de encontrar o
[gosto que faz esquecer...
Os meus retratos... Os meus livros... O meu crucifixo de
[marfim...
E a noite...
O ritmo dissoluto - Petrópolis, 1921
Bacanal
Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!
Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé Momo!
Lacem-na toda, multicores,
As serpentes dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vênus!
Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
- Vinhos!... o vinho que é o meu fraco!...
Evoé Baco!
O alfanje rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!...
Evoé Momo!
A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!
Carnaval,1918
quarta-feira, 29 de abril de 2009
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