Estamos quase sempre otimistas
Tudo vai dar quase certo
Pois o ano esta quase acabando
Depois de termos quase certeza
Que dento em breve teremos um quase
Alegre carnaval
Por pouco não trouxemos o penta
Quase acertamos na loto
Quase compramos a casa
Quase ganhamos o carro
A moça da banheira ficou quase nua
A gostosa da praia quase dá, não dá
Quase dá, não dá mole, não
Pro pouco não ganhamos o Oscar
Quase ficamos no emprego
Quase pagamos a dívida
Quase evitamos a falência
A moça da banheira ficou quase nua
A gostosa da praia quase dá, não dá
Quase dá, não dá mole, não
Contribuintes não contam
Torturadores não sentem
Esculturas de lama não morrem
Jornalistas mortos não mentem
Votamos no quase honesto, pois quase confiamos nele
Acabamos de entrar pelo cano
Por pouco não reagimos, quase nos revoltamos
Mas quase confiamos na justiça e na sorte
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Por Pouco (Mundo Livre S/A )
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Paulistanóide (Edvaldo Santana)
Edvaldo Santana
Paulistanóide
A cidade me controla
Com seus olhos de janela
Não consigo pular fora
Isso aqui parece cela
Dou uma bola e cruzo os nóias
Desço a rua na banguela
A cidade me seduz
Eu vou namorar com ela
Raras luas, ruas cheias ou desertas
São poetas, suas fontes são seus guias
É preciso feriado prolongado
Pra quem sabe então ficar sozinha
Quando desce o avião é tudo já periferia
Que inflou feito um balão
E perdeu a fantasia
Prisioneiros do relógio e dos carros
São escravos com seus sonhos no seguro
Cada ponto disputado à navalha
As bonecas são meninas no escuro
Quando fico longe um pouco
Parece até que nem saí
A neurose é minha droga
Pra ficar perto de ti
Poesia em São José dos Campos (1985)
Roberto Wagner de Almeida
Bendito é o fruto proibido,
cada soluço e cada gemido,
bendito é o fraco oprimido,
bendito seja o opressor vencido.
Bendito é o tempo já perdido
e todo inovador incompreendido,
bendito é o diferente reprimido,
bendito seja o devedor falido.
Bem-aventurado o filho rejeitado
e o que nasce concebido com pecado,
bem-aventurado o inocente condenado
e o que retorna e sobrevive torturado.
Bendito é o sussurro no ouvido
e cada coração de amor ferido,
bendito o que não foi escolhido,
bendito seja o que foi traído.
Bendito é o que parte perseguido
e todo o que chega foragido,
bendito o perdão que foi pedido,
bendito seja o sexto sentido.
Bem-aventurado este abraço apertado,
o beijo dado e o pranto derramado,
bem-aventurado o pesadelo adiado
e o canto livre neste palco enluarado.
(Da peça teatral: "O guerrilheiro da Inconfidência")
GLAUCO MATTOSO,UM POETA ASQUEROSO
SONETO 599 BRONZEADO
Contrário da vaidade, não há nada
melhor que o natural. Cabelo cai.
Os dentes escurecem. Quem é pai
um dia vira avô, baixando a espada.
Cerume se acumula. A amarelada
remela pende. O cravo não se extrai.
Da pele do nariz tanto óleo sai
que dá pra temperar uma salada.
Meleca nas narinas se pendura.
Espinhas se apinhando vão nas costas.
Panelas enche a banha da cintura.
As nádegas dariam tantas postas
que as índias cansariam da fritura,
deixando assar no sol, ao qual tu tostas.
SONETO 613 EVACUADO
Cocô, matéria fétida e salobra,
formato entre o cilíndrico e o esférico,
que às vezes liquefaz-se, disentérico,
ou fere o anal canal pelo qual obra.
Se cai em terra firme, ele se dobra
e n'água ele flutua como ibérico
veleiro; num esgoto periférico
encalha, sem espaço de manobra.
Marrom, tonalidade do tolete.
Destaca-se, mais claro, o amendoim
que os gomos lhe craveja e não derrete.
Não nego, o troço causa nojo em mim,
mas vem donde, na marra, fiz cunete...
Ainda o comerei se achar ruim!
Alváro de Campos
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).
Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
E' estar ao lado da escala social,
E' não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco, àquele pobre que não era pobre, que tinha olhos tristes por profissão
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.
"O Sétimo Selo", do sueco Ingmar Bergman.
Cena: O cavaleiro no confessionário, antes de descobrir que confessa à morte.
- Quero confessar com sinceridade, mas meu coração está vazio.
- O vazio é um espelho que reflete meu rosto. Vejo minha própria imagem e sinto repugnância e medo.
- Pela indiferença ao próximo fui rejeitado por ele. Vivo num mundo assombrado, fechado em minhas fantasias.
- Agora quer morrer?
- Sim, eu quero
- E pelo que espera?
- Pelo conhecimento. (Olha para a imagem de Cristo)
- Quer garantias?
- Chame como quiser.
- É tão inconcebível tentar compreender Deus? Por que Ele se esconde em promessas e milagres que não vemos ? Como podemos ter fé em Deus se não temos fé em nós mesmos?
- O que acontecerá com aqueles que não querem ter fé ou não têm?
...
- Temos de imaginar como é o medo e chamar essa imagem de Deus.
Lhaneza
Já que o Pedrão só enrola e nunca publica nenhum de seus escritos , publico eu!
"Fumo 3 cigarros e escarro no dia cinzento. Abro a janela, vejo o caro carro parado no caos da ponte que se levanta e se faz solo dos mendigos.Na fonte podre do saber, o riso, o beijo, e a tarefa é a mais sublime síntese do autoritarismo velado e do afeto burocrático. Com muito nojo de tudo, como faminto um simples miojo."
Só por hoje....
Lobão -Essa noite não
A cidade enlouquece, sonhos tortos
Na verdade nada é o que parece ser
As pessoas enlouquecem calmamente
Viciosamente, sem prazer
A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão, algo que você pressente
Indefinivel, mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
As cortinas transparentes não revelam
O que é solitude, o que é solidão
Um desejo violento bate sem querer
Pânico, vertigem, obsessão
A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
Tá sozinha, tá sem onda, tá com medo
Seus fantasmas, seu enredo, seu destino
Toda noite uma imagem diferente
Consciente, inconsciente, desatino
A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não
Fraqueza na carne
"Outro ângulo ainda : consumo de água. Pelo menos 3,5 mil litros são necessários para produzir um quilo de carne de frango, 6 mil para um quilo de carne de porco, pelo menos 15 mil para um quilo de carne bovina. Enquanto isso, um quilo de batatas pode ser produzido com até 500 litros. Terra e água necessárias para produzir um quilo de carne são suficientes para 200 quilos de tomates ou 160 de batatas, segundo o Worldwatch Institute. E as pastagens cobrem um terço das terras no mundo. Não é só. Os efluentes de criações são responsáveis por 50% da poluição da água na Europa e pela acidificação do solo (quando depositados sem tratamento)."
Lembrete
Está querendo melhorar.
Diz que está sofrendo,
Com os ladrões a roubar.
Agora já está dizendo:
Vai votar no Beira-mar.
Os políticos, com gula,
Nosso povo estão roubando.
Político que pula, pula,
Não estamos aguentando.
Querido Presidente Lula,
Tem muita gente mamando.
Poema afixado num poste no centro de Ubatuba, e publicado aqui inadvertidamente.
Descarbonando o carbonado ou ode(io) ao bipolarJuliana, a mato.
sete caras ou cara nenhuma
sete máscaras, sete portas, sete moradas
que começam o que a cara zero, neutra, nunca apruma
Esse homem que morre mas o cabelo ainda cresce
no processo de antropofagia que desune
tanto faz se cala, ou se escreve
quero mais que se vomite e que se fume
A guela que não gela
mas engasgada vive de tanta surra
da envergadura da pica, que de tanto bater fica
mas que murcha como verdura.
Poema escrito por "Juliana,a mato, segundo algumas, de prazer," em resposta ao carbonato de lítio, publicado em 22 Setembro 2004 no sítio http://capavazia.blogspot.com/ .
O círculo do suicída
Eduardo San Martin
"Da vida que poderia ter sido e não foi" Manuel Bandeira
Motivos do Bêbado
O cigarro é a lanterna de luxo
farol de amor e câncer
na fumaça dos lobos e seu repuxo
N inguém nos viu pela madrugada
nem eu nem o copo pela metade
nem a garrafa que não diz nada
Chavões de lustro
o livro fértil nas consultas disciplinares
não vale nada perante a lente dos doutores
empenhados no lustro das alunas amarradas
em seus olhares solares e chavões de gênio
eles dominam as malícias do templo
oferecem as barbas falsas do poder
à safra de lábios limpos da meninada
Entre as vítimas do terror
"Pedimos expressamente que não achem natural aquilo que acontece sempre.
Para que nada disso se mantenha" Bert Brecht
Poemas ao preso comum
Com todos irmãos nesta fossa
e tantas fugas sem sucesso
enfrento os coices do carrasco
e não entrego uma sílaba
tenho a consciência senil
de quem esqueceu até a data
em que morreu pela última vez
Poemas ao preso comum
Um murro racha as costelas
duas patas furam o estômago
joelhos no saco gelo nos pulmões
o suspeito engole sangue
e cospe seu segredo pardo
nas calças brancas do torturador
O relógio de Joaquim Cardoso
O Relógio
Do livro: "Poemas", Ed Agir, 1947, RJ
Quem é que sobe as escadas
Batendo o liso degrau?
Marcando o surdo compasso
Com sua perna de pau?
Quem é que tosse baixinho
Na penumbra da ante-sala?
Por que resmunga sozinho?
Por que não cospe e não fala?
Por que dois vermes sombrios
Passando na face morta.
E o mesmo sopro contínuo
Na frincha daquela porta?
Da velha parede triste
No musgo roçar macio:
São horas leves e tenras
Nascendo do solo frio.
Um punhal feria o espaço...
E o alvo sangue a golejar,
Deste sangue os meus cabelos
Pela vida hão de sangrar.
Todos os grilos calaram
Só o silêncio assobia;
Parece que o tempo passa
Com a sua capa vazia.
O tempo enfim cristaliza
Em dimensão natural;
Mas há demônios que arpejam
Na aresta do meu cristal.
No tempo pulverizado
Há cinzas também da morte:
Estão serrando no escuro
As tábuas da minha sorte.
500 visitas, 500 anos.
Milton Santos em Por Uma Outra Globalização - Do Pensamento Único à Consciência Universal
armas e simpsons
"Essa arma tem um controle sobre mim que faz eu me sentir como Deus quando segura uma arma"
HOMER SIMPSON
Brecht: Quem é teu inimigo?
Estrada
O retorno dominical é triste. Respiro apertado de quem sabe que terá que contar até cinco.
Na segunda ainda me seguro.
Na terça amanheço um pouco mais cinza.
Na quarta os olhos se acostumam ao pranto.
Na quinta eu grito e sofro até dormir.
Na sexta- feira o tempo demora a passar , mas eu espero e dirijo.
Aos trancos nos barrancos da serra eu chego e tudo termina com um beijo.
Cachoeira
Nem tudo são flores
Sou raiva
Sou um bicho
e estou acuada.
Escarro do diabo, sou desrespeito claro e franco.
Que venham todos.
Que eu mostre a eles que sou dor,
que sou vício.
Que cuspam todos em meu sofrimento.
Não há compaixão.
Sou morte, sou verme.
Estou do seu lado.
Mas , e daí?
Sou só um catarro que se desprendeu do pulmão fumante e foi parar no chão sujo da rua.
Cão que ladra
Mas......preciso ir agora porque hoje, assim como ontem, preciso trabalhar.
Versinho comemorativo
minha alma de tanta agonia.
Deixo aqui tudo o que passei um dia.
Ou será que não devia?