quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Poesia em São José dos Campos (1985)

SERMÃO DAS RUAS

Roberto Wagner de Almeida

Bendito é o fruto proibido,
cada soluço e cada gemido,
bendito é o fraco oprimido,
bendito seja o opressor vencido.
Bendito é o tempo já perdido
e todo inovador incompreendido,
bendito é o diferente reprimido,
bendito seja o devedor falido.

Bem-aventurado o filho rejeitado
e o que nasce concebido com pecado,
bem-aventurado o inocente condenado
e o que retorna e sobrevive torturado.

Bendito é o sussurro no ouvido
e cada coração de amor ferido,
bendito o que não foi escolhido,
bendito seja o que foi traído.
Bendito é o que parte perseguido
e todo o que chega foragido,
bendito o perdão que foi pedido,
bendito seja o sexto sentido.

Bem-aventurado este abraço apertado,
o beijo dado e o pranto derramado,
bem-aventurado o pesadelo adiado
e o canto livre neste palco enluarado.

(Da peça teatral: "O guerrilheiro da Inconfidência")

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