segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Catavento e Girassol (Guinga e Aldir Blanc)

Cantada por Leila Pinheiro

Meu catavento tem dentro
O que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido
Eu te pedi sustenido
E você riu bemol
Você só pensa no espaço
Eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio
Você é litorânea
Quando eu respeito os sinais
Vejo você de patins
Vindo na contra-mão
Mas, quando ataco de macho
Você se faz de capacho
E não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega
Nós não ouvimos conselho:
Eu sou você que se vai
No sumidouro do espelho
Eu sou do Engenho de Dentro
E você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio
E você é expansiva
(o inseto e a flor)
Um torce pra Mia Farrow
O outro é Woody Allen...
Quando assovio uma seresta
Você dança, havaiana
Eu vou de tênis e jeans
Encontro você demais:
Scarpin, soirée
Quando o pau quebra na esquina
Você ataca de fina
E me oferece em inglês:
É fuck you, bate-bronha
E ninguém mete o bedelho:
Você sou eu que me vou
No sumidouro do espelho
A paz é feita no motel
De alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois
Que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval
Aumentam os desenganos:
Você vai pra Parati
E eu pro Cacique de Ramos
Meu catavento tem dentro
O vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora
O escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade
Você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço
Você é tão espontânea!
Sei que um depende do outro
Só pra ser diferente
Pra se completar
Sei que um se afasta do outro
No sufoco somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser
E eu sou mais vermelho
Mas os dois juntos se vão
No sumidouro do espelho

domingo, 23 de novembro de 2008

Ciúme do perfume (Itamar Assumpção)

SOM e BOCAS QUE APROXIMAM e
CRESCEM. SOMEM.

Por mais que eu fume fume não consigo estar imune
Incólume desse ciúme quando sinto o seu perfume
A minha cabeça zune
Puxo a faca de dois gumes no negrume o aço lume eu
Corto o laço que nos une, perfume de flor de acácia
Perfumes de flor-de-lis perfume de orquídea perfume
De amarílis perfume de flor de lótus perfume de meretriz
Perfume de flor de cactos perfume de flor de anis
Por mais que eu...

sábado, 8 de novembro de 2008

Deus me dê Grana (Marcelo Nova/ Karl Hummel/ Gustavo Mullem)

Correndo risco (1986)

"Senhor, vou lhe falar: Nunca pedi assim!
Sempre rezei pros outros
Mas desta vez é pra mim

Perdi tudo o que eu tinha
Sei que fiz muita besteira
Mas se você não achar o meu bolso, Deus
Por favor coloque na carteira

Se eu fico aqui parado, nessa bobeira sem fim
Logo, logo os "hôme" vão estar atrás de mim
Você tá numa boa, é o dono do paraíso
Então me empresta uns trocados, Deus, é só disso que eu preciso

Deus me dê grana, Deus, por favor
Deus me dê grana, seu filho tá na de horror

De manhã bem cedo, alguém bate em minha porta
É a proprietária que eu sonhei estava morta
Pulo pela janela na maior correria
Mas é muito difícil, Deus, com a barriga vazia

Deus me dê grana, Deus, por favor
Deus me dê grana, seu filho tá na de horror

Quando passa aquela loura, que mora aqui do lado
Só de imaginar eu fico super excitado
Mas como eu posso armar uma treta decente
Se até me falta pasta, Deus, pra eu escovar os dentes

Deus me dê grana, Deus, por favor
Deus me dê grana, seu filho tá na de horror

Senhor, eu sei que você é gente fina
Sei também que dureza nunca foi a minha sina
Aceito de bom grado uma bolada qualquer
Pode me dar em cheque, Deus, ou em dólar se puder

Deus me dê grana, Deus, por favor
Deus me dê grana, seu filho tá na de horror"

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Cultura Lira Paulistana (Itamar Assumpção?)

A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura
Pobre cultura como pode se segura
Mesmo assim mais um pouquinho
E seu nome será amargura ruptura sepultura
Também pudera coitada representada
Como se fosse piada
Deus meu por cada figura sem compostura
Onde era ataulfo tropicália
Monsueto dona ivone lara campo em flor
Ficou tiririca pura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Que droga merda
Cultura não é uma tchurma
Cultura não é tcha tchura
Cultura não é frescura
A brasileira é uma mistura pura uma loucura
A textura brasileira é impura mas tem jogo de cintura
Se apura mistura não mata
Cultura sabe que existe miséria existe fartura e partitura
Cultura quase sempre tudo atura
Sabe que a vida tem doce e é dura feito rapadura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Cultura sabe que existe bravura agricultura
Ternura existe êxtase e agrura noites escuras
Cultura sabe que existe paúra botões e abotoaduras
Que existe muita tortura
Cultura sabe que existe cultura
Cultura sabe que existem milhões de outras culturas
Baixaria na cultura tanto bate até que fura
Socorro elis regina
A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura
Pobre cultura
Como pode se segura
Mesmo assim mais um tiquinho
Coitada representada
Como se fosse um nada
Deus meu por cada feiúra
Sem compostura
Onde era pixinguinha elizeth macalé e o zé kéti
Ficou tiririca pura
Só dança de tanajura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Que pop mais pobre pobre pop

Composição?