quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Paulo Leminsky

[matéria é mentira]
essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira

[tudo que eu diga seja poesia]
moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia

[vazio agudo]
vazio agudo
ando meio
cheio de tudo

[Arte do chá ]
ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo

[acordei bemol]
Acordei bemol
Tudo estava sustenido

Sol fazia
Só não fazia sentido
[acendo o cigarro no incenso]
dia sem senso
acendo o cigarro
no incenso


[Erra uma vez]

nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez


[.]
Esta vida de eremita
é, às vezes, bem vazia.
Ás vezes, tem visita.
Às vezes, apenas esfria.


[LÁPIDE 1 - epitáfio para o corpo]
Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silência, acredito,
são suas obras completas.


[LÁPIDE 2 - epitáfio para a alma]
aqui jaz um artista
mestre em desastres

viver
com a intensidade da arte
levou-o ao infarte

deus tenha pena
dos seus disfarces

[.]
coisas do vento
a rede balança
sem ninguém dentro
[.]
dia cinzento
assim me levanto
assim me sento
[.]
novas telhas
à primeira chuva
nova goteira
[.]
nadando num mar de gente
deixei lá átras
meu passo à frente
[.]
inverno
é tudo que eu sinto
viver
é sucinto
[.]
muito romântico
meu ponto pacífico
fica no atlântico
[.]
- que tudo se foda,
disse ela,
e se fodeu toda
[.]
de colchão em colchão
chego à conclusão
meu lar é no chão
[.]
essa a vida que eu quero,
querida

encostar na minha ,
a tua ferida
[.]
Fiz um trato com meu corpo.
Nunca fique doente.
quando você quiser morrer,
eu deixo.
[.]
vida e morte
amor e dúvida
dor e sorte

quem for louco
que volte.
[.]
acabo como começo
canções de fracasso
não fazem mais sucesso

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